domingo, 15 de abril de 2012

Minhas ou dela? Dela ou minha?


Não sei se é ao acaso, ou algo premeditado. Só sei que acontece. Por um lado tudo é de repente, por outro, a cada passo se dá. Olhares, palavras curtas, gestos pequenos, pensamentos; tudo se encaixa e forma um movimento inigualável, cheio de harmonia e sintonia.

A comunhão de bens já começa aqui, muito antes de papéis ou documentos assinados. Abrem-se as reservas, que dantes não se dividiam com pais, amigos, irmãos, mendigos ou ladrões; e dá-se por inteiro, um entrega total, entre o Salomão e a sua sunamita.

Pensa-se aqui, faz-se ali, ele por ela e ela por ele. Até mesmo os que estão ao redor se surpreendiam com a exatidão desse processo. Isso é a paixão, com suas surpresas. Diz-se que os opostos se atraem, claro que sim; mas os gostos se encaixam, se misturam, se completam. Como uma enzima e seu substrato, que tão bem unidos, catalisam uma reação. E o produto dessa reação (não estou falando dos filhos) é inexplicavelmente saboroso, vistoso, apetitoso. O fruto do amor é algo que se come sem se saciar, sem se cansar. O seu sabor vai se espalhando pelo paladar até chegar em todas as partes do corpo, que já não responde por sim mesmo. Quando menos se espera, o olho corre em direção à amada, o pensamento se prende aos atributos dela, os pés lhe levam ao encontro da Julieta, que lhe espera em sua torre de vigia. Já não dorme, já não come, já não vive. Ou até vive, mas de uma forma totalmente nova, pois agora o seu viver é o dele, e o dele o seu. E as mãos não ficam de fora, trabalham incansavelmente, até pedir basta, e não obedecer, continuando a servir seus donos apaixonados. Cartas, bilhetes, gravuras, presentes, elementos alimentícios, artigos estranhos (que só os enlaçados entendem), tudo feito por essas mãos, que já não trabalham para o próprio dono, mas para outrem. E futuramente receberão sua identidade, credencial, ou algema (para os que tem o matrimônio como uma prisão, e não sei porque entram nela), como prova de que realmente já pertencem a esse "outrem".

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